segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Ouro, incenso e mirra - Rosalvo G. Mota

Irmãos e irmãs, Paz de Belém !

“E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino. Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande. Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra” (Mt. 2, 9-11).

Por que os Reis Magos deram esses presentes a uma criança “recém nascida”, o menino-Deus? O que uma criança poderia fazer e como usar esses presentes? Para que eles servem e o que significavam? Vejamos, “an passant”, a definição e uso de cada um dos objetos presenteados.

Ouro. Metal precioso, de grande valor, como todos nós sabemos. Os Hebreus usavam o ouro em muitos dos utensílios mais importantes usados no Tabernáculo e no Templo. Tradição, que herdamos, em vigor até os tempos atuais, em nossas igrejas e em peças mais significativas. Exalta a grandeza e divindade do Senhor.

Incenso. Resinas e especiarias de odor suaves, tiradas de árvores, e que, em geral são queimadas com outras substâncias para tornar a fumaça mais grossa e o cheiro mais suave. A fumaça do incenso, que sempre sobe para o céu, sugere naturalmente, aos homens a direção da prece a Deus. O Apocalipse fala de um anjo que oferece incenso a Deus com “as orações de todos os santos sobre o altar de ouro” (Apc 8,3).

Mirra. Substância aromática de forma líquida ou sólida, obtida da resina de um arbusto balsâmico da Arábia. Misturada com vinho, servia como um anódino para mitigar os sofrimentos, como a usaram com Cristo no Calvário (Mc. 15,23).

Com efeito, refletindo a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, percebemos que os presentes foram significativos e necessários, até a sua morte no calvário.

Neste sentido, também, de maneira semelhante, recebemos e vivemos estes presentes na nossa vida de franciscanos seculares.

O Primeiro presente, o ouro, está contido e é o nosso “Modo de Vida” que nos legou São Francisco, que é a nossa luz principal, o nosso ouro, que é a nossa REGRA, aprovada pela Igreja, que define o nosso CARISMA, a nossa SECULARIDADE.

A “índole secular caracteriza a espiritualidade e a vida apostólica dos franciscanos seculares”, vivendo no mundo e pertencendo a duas realidades: à Igreja e à sociedade. Neste sentido, podemos muito bem usar a bela figura que fez S. Francisco, no diálogo com a “Senhora Pobreza”, descrita no “Sacrum Comercium”: “O nosso Convento é o Mundo e a cela da alma, é o nosso corpo”.

O segundo presente é a vossa Vocação, o nosso “incenso”, como resposta-oferta ao chamado de Deus, que é a nossa maior graça, como escreveu Santa Clara em seu Testamento: “A maior de todas as graças que recebemos, e que cada dia recebemos de novo do Pai de toda misericórdia, é a nossa vocação que, quando maior e mais perfeita, mais a Ele é devida” (Test. Sta. Clara 1).

Devemos fazer essa oferta a Deus através de uma vida de família, no trabalho, no encontro com os homens, na presença e participação na vida social e no relacionamento fraterno com todas as criaturas. Ainda, através de uma vida de oração, que nos leva a Deus, como verdadeiros adoradores do Pai, ofereçamos as nossas vidas como incenso a Deus. Vivendo a nossa vocação, procurando ser perfeitos como o Pai do Céu é perfeito, nos tornamos um “Alter Cristus”, para a glória de Deus.

O terceiro presente que nós recebemos é a Fraternidade, a nossa “mirra”. São Francisco resgata o modo de vida dos primeiros cristãos e torna realidade a vida Evangélica. A Fraternidade para nós é, como dizia nosso saudoso Papa Pio XII, “uma verdadeira escola de santidade, de genuíno espírito franciscano”.

Como “escola”, vivida em sua integralidade e autenticidade, é a nossa “mirra” onde, como irmãos e irmãs da Penitência, aprendemos a viver em espírito de conversão permanente, as práticas penitenciais, como o jejum e a abstinência, aprendemos a sentir compaixão com os “leprosos” de hoje, a aliviar nossas dores, é onde aprendemos a ser solidários uns com os outros, onde, também, bebemos da “água viva” e nos alimentamos do “pão da vida”, para irmos pelo mundo.

Irmãos e irmãs, vivendo a nossa “epifania,” com os presentes que Deus nos deu: o nosso ouro=Regra, o nosso incenso=vocação e a nossa mirra=fraternidade, nos sentiremos encorajados a prosseguirmos a vocação franciscana.

Do irmão em Cristo, Francisco e Santa Clara,
Rosalvo G. Mota, OFS

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