terça-feira, 23 de setembro de 2008

Homilia de D. Cappio no encerramento da Jornada Franciscana em Aparecida/2008



O bispo da Barra, D. Luiz Flávio Cappio, OFM, encerrou a Jornada Franciscana no Santuário Nacional de Aparecida, com celebração às 10h30.

Neste ano, a Jornada Franciscana da FFB região Sudeste celebrou os 800 anos do Carisma Franciscano, com o tema “Com Francisco, Vamos à Casa de Maria, Celebrar a Vida”.

Este tema também aborda o tema da Campanha da Fraternidade deste ano, "Defende, pois a vida".

Confira na íntegra a Homilia de D. Cappio:

1. Com frei Galvão, meu querido confrade e conterrâneo, saúdo à grande família franciscana brasileira, em seus vários segmentos, comunidades masculinas, femininas, respeitando seus diversos carismas, todos marcados com a ternura e o vigor de Francisco e Clara que são a ternura e o vigor do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Agradeço, de coração, a oportunidade que me foi dada de falar aos meus irmãos e irmãs, membros desta imensa família que tanto amo e da qual faço parte, numa ocasião tão especial como a dos 800 anos de vivência de nosso carisma, vividos por pessoas tão especiais nos quatro cantos do mundo.

2. Algo muito grande nos une: o seguimento de Jesus segundo as pegadas de São Francisco - 800 anos de estrada deixaram sulcos profundos na história da humanidade, por essa maneira franciscana de ser, agir, de viver.

Por essa maneira própria de ser discípulos e missionários do Reino, a serviço do povo de Deus, principalmente os pequenos e pobres desse mundo. A sombra luminosa do marrom terra esquentou muitas vidas ao longo da história.

3. Somos discípulos e discípulas de um homem de Deus. Homem marcado por Deus – homem tomado por Deus que por sua parte se entregou a Deus até o ponto de, com os estigmas poder dizer com São Paulo: “Já não sou eu quem vivo, é Cristo quem vive em mim”. O discípulo segue o exemplo do mestre. Nós somos estes discípulos e discípulas. E eu perguntaria: Como vai nossa vida em comunhão com Deus? Nossa vida de oração, de cultivo da espiritualidade? Aquele ou aquela que se diz franciscano necessariamente deve ser um homem, uma mulher de oração, alguém que lê, medita e procura seguir com fidelidade as orientações do Evangelho. Aquele ou aquela que não é discípulo e missionário da Palavra, igualmente não é franciscano. É uma questão de fidelidade, de coerência ao carisma que Francisco e Clara nos legaram.

O franciscano, a franciscana moldados no espírito de Francisco e Clara é aquele, é aquela que repousa à sombra da Eucaristia, e faz dela seu alimento cotidiano.

4. Somos discípulos e discípulas de um homem pobre. Alguém que seguiu de perto Jesus, Homem Pobre, amante dos pobres, que fez dos pobres a menina de seus olhos, a corda fina de seu coração. Fez da pobreza a bandeira de sua missão. Opção esta que nos marcou ao longo da história e que nos identifica no seguimento de Jesus. E como discípulos e discípulas do Poverello, tomaria a liberdade de perguntar: como vai nossa vida de pobreza? Franciscano, franciscana, você é pobre? Se sua resposta for positiva você se torna digno de vestir o burel cor do chão.

Se você não for pobre, franciscano você não é. Seu coração se identifica com os pobres? Sua cabeça é de alguém que pensa a partir dos pobres? Seu agir, seu viver tem os pobres como prioridade? Como para São Francisco e Santa Clara o pobre é a corda fina de seu coração, a menina de seus olhos, o sonho de suas noites, sua opção preferencial? Se não for assim você até pode ser um homem ou mulher de boa vontade, mas ainda não é um franciscano, uma franciscana.

E se você verdadeiramente se esforçar, um dia poderá vir a ser um verdadeiro franciscano a luz de São Francisco, de Santa Clara, de Santo Antonio, de Maximiliano Kolbe e São frei Galvão. Esta é a nossa marca indelével. O seguimento do Homem Jesus de Nazaré nas pegadas de São Francisco e de Santa Clara.

5. Somos discípulos e discípulas de um homem cheio de vida, que faz das palavras de Jesus suas palavras: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância”. Alguém que se identificou com todas as formas de vida, criação amorosa do Pai.

Um filho fiel que se tornou pai da Natureza, padroeiro e protetor de todas as formas de vida que pululam neste mundo universo que manifestam e testemunham a glória do Pai-Criador.

Hoje, a natureza nos interpela, o meio-ambiente pede chorando para que cuidem dele para que ele possa continuar cuidando da humanidade. A vida quer gerar vida, mas desde que deixem que ela seja geradora de vida. Nesse processo de morte imposto a natureza de Deus, onde estamos?

O que pensamos? O que fazemos de concreto para que a vida seja preservada e possa continuar gerando vida? Preocupo-me com as futuras gerações – nossos filhos, nossos netos, aqueles que virão depois de nós, nos sucederão. Que mundo estamos preparando para eles?

Vão nos agradecer ou vão nos condenar? O que eles dirão de nós se não tiverem mais ar puro para respirar, água potável para beber, alimentos saudáveis para ingerir, um mundo digno para viver? Seremos bem-aventurados ou seremos malditos por eles. Sofremos as conseqüências dos que vieram antes de nós e preparamos a vida ou a morte do mundo para aqueles que virão depois de nós.

Hoje cantamos com Francisco: irmão sol.....irmã lua......irmãs estrelas......irmã água.......irmão ar. Se, como Francisco, não formos verdadeiramente irmãos e irmãs dos elementos criados por Deus Pai, por causa de nós, por nosso amor, nossos filhos e filhas gritarão: maldito sol que nos queima......maldito ar que nos intoxica.......maldita água que nos envenena. E o Cântico do Irmão Sol será um hino fúnebre de desespero e de saudades.

6. Meus queridos irmãos, minhas queridas irmãs, o sopro do Espírito paira sobre nós e sobre todos aqueles e aquelas que, como Francisco e Clara almejam viver com sinceridade a vida, dom maior do Pai, doador de todos os bens. Deixemo-nos envolver por este Espírito. Deixemos que o Espírito Santo de Deus-Amor tome conta de nós como tomou conta de Francisco e Clara fazendo deles luzes fortes ao longo destes 800 anos. E assim, por mais 800 anos e para todo o sempre este carisma de vida possa continuar gerando vida e vida com abundância. Paz e Bem!

Aparecida - Santuário Nacional -20 de setembro de 2008.
Dom Frei Luiz Flávio Cappio, OFM, Bispo Diocesano de Barra (BA)
(fonte: http://www.franciscanos.org.br/)

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